MEU DEUS!…VOU SER OPERADO(A)!


Paula PedroOlá caros leitores!

Esta semana trago-vos mais um tema de saúde, desta vez, no âmbito da Cirurgia, área à qual já dedico uma boa parte da minha vida profissional, que já conta com, praticamente 25 anos.

Seleccionei este título – um pouco assustador, por sinal – para vos abordar uma questão pertinente, seguramente, não só para mim, mas também para todos os profissionais de enfermagem, independentemente de estes últimos, serem ou não enfermeiros perioperatórios, que é como quem diz: aqueles que interagem com a pessoa (doente) que vai ser submetido a uma intervenção cirúrgica.

E dentro desta valência, seleccionei especificamente algo que detém uma importância extraordinária, diria mesmo, um ex-líbris, na melhor e mais rápida recuperação da pessoa que vai ser cirurgicamente intervencionada (operada):

– “A VISITA PRÉ-OPERATÓRIA DE ENFERMAGEM” – VPOE!

– Mas, o que é “isso” da VPOE? – Poderão vocês, eventualmente, questionar! (?)

Quiçá, alguns de vós, particularmente aqueles que nunca foram submetidos a uma intervenção cirúrgica, até poderão estranhar este conceito?(!)…E , mesmo daqueles que foram operados, provavelmente existirão alguns que apenas se recordam da figura de um médico anestesista a fazer-lhes a VISITA PRÉ-ANESTÉSICA, e não, a figura de um enfermeiro de Bloco Operatório a visitá-los!(?)…Todavia, existirão certamente aqueles que beneficiaram da visita deste último, e esses, por essa mesma benesse, estou em crer que valorizarão e atribuirão o devido reconhecimento e prestígio, ao papel do enfermeiro de Bloco Operatório que os visitou, previamente à realização da sua cirurgia.

Mas…vamos lá então esmiuçar este conceito de VPOE, no sentido de se proporcionar, por esta via (espero!), por um lado, uma partilha de conhecimento, e por outro lado, enfatizar que aquela, deveria ser um direito que assiste a todas as pessoas em circunstâncias pré-cirúrgicas…porém e infelizmente, este dito direito , nem sempre é exequível de se concretizar, por insuficiência e/ou inadequação de condições e recursos humanos dos nossos Blocos Operatórios – nomeadamente, enfermeiros disponíveis que têm obrigatoriamente que dar resposta a outro tipo de actividades, ditas “prioritárias”, relacionadas com os doentes que estão a ser intervencionados, e outras!… – competindo às chefias, seleccionar a melhor adequação dos recursos existentes, por forma a garantir a melhor gestão possível dos Serviços.

Ainda assim, e resultado da minha experiência pessoal, considero que os Blocos Operatórios que fazem exclusivamente Cirurgia Programada e não têm integrados em si, Cirurgia de Urgência (aquela que não tem espera possível!), detêm melhores condições para a concretização da VPOE, comparativamente aos outros.

– E, porquê? – Questionam vocês!

– Ora, ora!…Mas é lógico, não é? – Respondo eu!

Precisamente porque esses tais, os primeiros que referi, não concretizam Cirurgia de Urgência, e por isso mesmo, têm mais facilidade de incluir no planeamento das suas actividades, a VPOE!

– Então…e quais são as vantagens “dessa tal” VPOE? – Perguntam vocês, hipoteticamente!

– “Oh, meu Deus”!…- É que não tenham sequer dúvidas, do que a seguir passo a partilhar convosco:

Todo o doente que tem o privilégio de beneficiar de uma VPOE, tem a possibilidade de estabelecer uma  partilha com “um alguém“, que inevitavelmente se torna especial para o próprio, porque “esse alguém”, está ali, inteira e incondicionalmente disponível para:

  – “ESTAR/SER; OUVIR; DAR”!

Ou seja, o enfermeiro perioperatório, para além de:

– Colher os dados relativos à condição de Saúde/Doença;

– Informar acerca da preparação física necessária para o acto cirúrgico;

– Informar acerca dos procedimentos que vão ser efectuados no Bloco Operatório e a importância da sua colaboração; entre outros, que não interessa aqui divulgar, pois cada caso, “é um caso único”!…

Mas referia eu, para além destes aspectos, esse profissional dá especial enfoque a outras valências, não menos importantes, e às vezes, diria mesmo, bem comprometedores, nomeadamente:

– O ESTADO PSICO-AFECTIVO!

Habitualmente está patente um estado de ANSIEDADE, cujo grau é variável de pessoa para pessoa, ou então, um estado DEPRESSIVO, também este variável.

Aliás, a LABILIDADE EMOCIONAL no momento, é algo facilmente perscrutável pelo enfermeiro perioperatório:

– A expressão do fácies e do olhar (que muitas vezes são de medo, de sofrimento, de resignação, de revolta); a excessiva gesticulação; a postura [ muitas vezes fechada, inclinada, adinâmica (com falta de força), ou mesmo estática, ou então, demasiado activa]; a verborreia (necessidade excessiva de falar); o desespero – muitas vezes expressado com o “agarro” da farda do enfermeiro, um fácies de pânico, a que se junta a tão aflitiva expressão de súplica:

– “Por favor!…não me deixe morrer!”

– O choro; o suspiro; o soluço a agonia (muitas vezes acompanhada com outros sintomas, como: falta de saliva, pulsação acelerada e naúsea (enjoo)… e até euforia, manifestada por riso descontextualizado, em situações de negação perante o que irá passar-se com o próprio(!).

Concomitantemente, existem outras questões que estão subjacentes ao acto cirúrgico, que são alvo da sua preocupação e, como que “atormentam a sua alma”, nomeadamente:

Questões relacionadas com a espiritualidade – a necessidade de sentir maior proximidade de Deus na sua Vida, naquele momento!…; ou questões sociais – o absentismo “forçado” e a privação temporária daqueles que de si, dependem!…; pelo que, por vezes, há necessidade de se recorrer ao suporte de outros profissionais da equipa multidisciplinar, como: um agente espiritual (sejam lá quais forem as orientações religiosas do próprio!…); um assistente social (em situações de abandono, ou de rejeição familiar, por exemplo); ou mesmo um médico psiquiatra!…este último, mais em casos de manifestações, ditas, psicóticas!…

Em suma, há toda uma panóplia de expressões e sentimentos para os quais o profissional está alerta, focalizando de imediato a sua intervenção no cerne da questão, que é como quem diz:

– Focaliza-se naquilo que verdadeiramente está a perturbar o doente, naquele momento…seja lá o que for!

O suporte emocional, com recurso ao TOQUE – a envolvência das mãos nas suas, por exemplo – a focalização do olhar, a voz serena, a postura de profundo respeito e solidariedade pela sua causa…tudo isso, associado ao seu SABER, acreditem!…Funciona como uma mais-valia na CONFIANÇACOLABORAÇÃO e mais rápida RECUPERAÇÃO da sua intervenção cirúrgica!…De repente, como que por magia:

– “Tudo parece mais fácil!” – como muitas vezes, o referem!

Este brilhante vídeo divulgado pela AESOP (ASSOCIAÇÃO DOS ENFERMEIROS DE SALA DE OPERAÇÕES PORTUGUESES), como que vem complementar o presente artigo porque, ao fim e ao cabo, é digamos que, a continuidade da VPOE, ou seja, aborda o Intra-Operatório e o Pós-Operatório.
Espero que apreciem esta partilha de conhecimento, e que esta, de alguma forma, possa contribuir para fomentar a vossa CONFIANÇA em nós, ENFERMEIROS PERIOPERATÓRIOS!

Para finalizar este artigo, que já vai bem mais extenso do que inicialmente previ…mas enfim, entusiasmei-me!…não poderia deixar de evocar a nossa mui querida FLORENCE NIGHTINGALE – “anjo ministrador”, conforme o terá referido Henry Wadsworth Longfellow, em 1857, no seu poema “Santa Filomena” –  e bem assim, evocar o seu papel, enquanto criadora da ENFERMAGEM MODERNA, destacando-se como a mulher que dedicou a sua Vida para “O CUIDADO DO OUTRO” e para a PROFISSIONALIZAÇÃO DA ENFERMAGEM, presenteada pela “DAMA DA LÂMPADA”, incansável missionária!

Por conseguinte, eis um resumo da  sua História de Vida,  que podem visualizar neste pequeno vídeo.

Espero que, até para a semana, se Deus quiser, e, SEJAM FELIZES!…Ou pelo menos, façam por isso, na medida do possível!…

Beijinhos.

 

Paula Pedro

 

4 comentários a “MEU DEUS!…VOU SER OPERADO(A)!

    • Muito obrigada pelo comentário, José Carlos. Com efeito deveria ser sempre assim…mas como infelizmente não é!…é lícito, pelo menos as pessoas saberem que existe a VPOE, como se processa e quais os seus benefícios, traduzidos em “ganhos” de saúde. 🙂
      Beijinhos.

      Paula Pedro

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  1. Olá, deixo aqui apenas um pequeno comentário de quem já passou pela situação.
    A visita será sempre benéfica para o doente mas não pode ficar só por aí…a recolha de dados que referes até se poderá tornar “maçadora”. O enfermeiro colhe dados, o médico idem, idem…o anestesista volta à carga, e depois vem o enfermeiro do bloco. Então ninguém lê o processo….será preciso responder as mesmas perguntas a tanta gente. Importante sim é o doente ficar com uma referência e assim sabe que aquele profissional que o visitou e tirou as dúvidas estará lá para ajudar a diminuir ou atenuar os sentimentos que referiste. Depois existe sempre aquela sensação de solidão porque o doente chega ao transfere fica ali a olhar para o ar, entra para o bloco e fica na sala de indução!!!! rodeado de montes de coisas que ainda o assustam mais….esse profissional poderia acompanhar mais o doente e ajudar nesse sentido.
    No meu caso pouco senti isso porque felizmente tenho bons e muitos amigos em todo o lado e apoio foi coisa que não me faltou, mas e os outros…. como disseste, se calhar não existe enfermeiros para isso tudo, mas haverá sempre uma palavra, um sorriso…em relação ao sorriso as máscaras não ajudam muito…com a “moca” é difícil distinguir as pessoas.
    Desculpa ser um pouco extenso mas muito havia para dizer e é difícil condensar as idéias.
    Beijinhos.

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    • Olá Mário Rui!

      Muito obrigada pelo teu pertinente comentário, e, mais importante ainda, pelo teu testemunho pessoal.
      Apesar de pertenceres à nossa classe profissional, depreendo, pelas tuas palavras, que estarás incluído no rol daqueles que não tiveram a benesse de lhes ser concretizada a VPOE, caso contrário, aquando do acolhimento no transfere, ao vislumbrares o enfermeiro periopertório que hipoteticamente te visitou na véspera da tua cirurgia, o teu SENTIR e a tua CONFIANÇA, seriam certamente bem diferentes daquilo que experienciaste.
      Quanto à máscara facial, normalmente baixamos sempre quando nos apresentamos ao doente, no transfere…e nessa fase inicial, normalmente (salvo as excepções) ele ainda está, digamos que, lúcido…pelo que, estou em crer que mui dificilmente esquecerá “um rosto carinhoso”. 🙂
      Beijinhos.

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