OH MEU DEUS!…MAS QUE DOR INSUPORTÁVEL!


Paula PedroOlá Caros leitores!

Esta semana decidi abordar-vos o tema da DOR.

Ainda que a DOR tenha uma multiplicidade de abordagens, não é minha pretensão, neste artigo em particular, contextualizá-la na DOR FÍSICA, nem tampouco fazer quaisquer referências à sua fisiopatologia ou mesmo, farmacologia…e desde já, peço imensa desculpa pelos “palavrões”, que certamente para muitos de vós, não vos diz absolutamente nada!…Quer isto dizer que não irei abordar a questão da analgesia, que habitualmente é prescrita mediante o recurso a uma escala analógica, e também, mediante o seu enquadramento clínico. NADA DISSO!…

O que pretendo abordar-vos é um outro tipo de DOR:

A”DOR DA ALMA”

Na realidade a “DOR DA ALMA” ou “SOFRIMENTO DA ALMA”, ou DOR PSÍQUICA, ou como lhe quisermos chamar, ao contrário da DOR FÍSICA, não é passível de qualquer quantificação, nem tampouco a podemos classificar como DOENÇA PSÍQUICA, todavia o seu arrastamento negligenciado, descurado no tempo…sem qualquer tipo de intervenção, seja ela gerida pelo próprio, através de mecanismos de defesa intrínsecos no combate à DOR, ou com o suporte de outros, relevantes para o mesmo…poderá induzir a uma situação de DOENÇA EMOCIONAL, e aí, sim!..Instalada a DEPRESSÃO, tornar-se-á inevitável o recurso à FARMACOTERAPIA, muitas vezes coadjuvada com  a PSICOTERAPIA.

– Mas o  que é “isso” de mecanismos de defesa intrínsecos? – poderão vocês, eventualmente, questionar(!).

Bem…não é de todo fácil explicar isto, pois esses tais mecanismos de defesa constituem algo que integra a personalidade de cada um. Quer isto dizer que, para uns, até pode ser relativamente fácil arranjar um qualquer mecanismo compensatório, o designado “escape”, que, como que vai atenuar essa dor. E a vontade consumada nessas “escapatórias”, poderá funcionar com um prelúdio para a recuperação, porque entretanto a mente, a concentração e a atenção estão, digamos que, desviadas desse SENTIR ANGUSTIANTE…e o tempo vai passando, e a dor vai atenuando, apaziguando, até se tornar suportável, ou mesmo, desaparecer.

Porém, infelizmente nem sempre é assim!…Eu diria mesmo que, tendencialmente  a “dor da alma” está a tornar-se uma doença civilizacional em crescendo, ou seja, as pessoas estão a ficar cada vez mais infelizes, e por isso mesmo, mais doentes!

A realidade é que assiste-se cada vez mais a uma incapacidade e a uma falta de vontade das pessoas em contornar as vicissitudes, os obstáculos e as perdas da própria Vida, que concomitantemente surgem por motivos alheios à sua vontade, sejam eles quais forem!…E essa incapacidade, essa falta de vontade, podem induzir a um deplorável status:

“Deixa-se de sorrir; deixa-se de sonhar! Por vezes, o próprio não sabe o que tem…mas tem! Sentir-se triste, passa a ser uma constante! Instala-se o pranto, o soluço; a voz embarga! Sente-se desarmado, humilhado, perdido, indefeso! Afloram os medos, a insegurança, o desespero! Tem consciência dos seus medos…mas não os controla! O sofrimento, a angústia e a solidão exacerbam-se! Sente-se um vazio; tudo fica sem nexo e desprovido de sentido! Sente-se incapaz de sair, de trabalhar e até de crer no que quer que seja!…Sente-se angustiado; pode despoletar o pânico!”

E, não é fácil VIVER-SE assim! – “SÓ SABE QUEM SENTE…E SÓ SENTE QUEM TEM!”

Na verdade,  a “dor da alma” pode ser tão intensa e provocar tamanho sofrimento que poderá induzir o próprio à sua transfiguração, e até mesmo, resignação a um estado de catatonia…”não se VIVE!” pura e simplesmente “vegeta-se!”…Por vezes, o SUICÍDIO é para ele a única solução para o términos de tamanha dor, e o mais incrível é que, inacreditavelmente, alguns conseguem não deixar transparecer um único sinal de alerta dos anteriormente referidos, qual falsa ilusão de estabilidade emocional!…E estes últimos, são infelizmente aqueles, digamos que, conseguem “escapar” ao nosso “radar”, aqueles que não conseguimos “dar uma mão”, um gesto carinhoso, uma “palavra amiga”, um manifesto de solidariedade e respeito, enfim…”confortar-lhes a alma!”…

Sendo certo que, o “conforto da alma” proporcionado por alguém é um savoir faire, um SENTIMENTO DE SOLIDARIEDADE, uma forma de HUMANIZAÇÃO que advém maioritariamente do SENSO COMUM e dos valores intrínsecos de cada um; ou seja, dos “recantos do seu coração”!…Por outras palavras, qualquer pessoa, numa fase inicial da doença psicológica – a tal “dor da alma” – poderá assumir um papel preponderante no despiste e melhor encaminhamento desta situação problemática, que se traduz em perdas de saúde, bastando para tal, predispor-se a…

Ninguém está imune à depressão!…Nem mesmo nós, profissionais de Saúde! Aliás, os transtornos depressivos são um enorme problema de Saúde Pública, devido aos milhões de pessoas afectadas e cujas estatísticas, segundo a OMS, entre outros achados importantes, estão visíveis aqui!

As causas da “dor da alma” podem ser as mais variadas, como: um fundo genético propício; abuso de álcool  ou de drogas; problemas de saúde ou de dor crónica; traumas de infância; problemas sociais, entre outros…todavia, atribui-se especial enfoque à PERDA, considerando-se perda, algo que o próprio ficou desprovido e que detinha como seu, ou pelo menos, que fazia parte integrante do seu SER e/ou do seu VIVER. A título de exemplo em termos de perdas, destacam-se:

Um grande amor ou paixão; o casamento, o lar, a família; a morte de alguém significativo para o próprio; a saúde, uma mutilação; a casa ou o “aconchego”; o emprego; a capacidade de subsistência, etc., etc…

Pelo exposto, acresce referir que nos últimos anos esta doença aumentou exponencialmente no nosso país, a avaliar pelo “explosivo” consumo de anti-depressivos e de estabilizadores de humor e ainda, pelos custos subjacentes, nomeadamente: custos indirectos – pelo crescente absentismo – e, custos directos – pelo aumento de consumo de cuidados directos.

Ora bem!…Considerando a depressão como um flagelo que está a aniquilar a QUALIDADE DE VIDA DAS PESSOAS e a traduzir-se em PERDAS em matéria de SAÚDE, há que visionar – no que diz respeito a Portugal – ser uma emergência os “senhores governantes” reverem as políticas de Saúde vigentes a nível dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), e também a nível dos Cuidados de Saúde Diferenciados (CSD)!…Quer isto dizer que, entre outros, é uma emergência integrar no Serviço Nacional de Saúde (SNS), a contratualização de mais recursos humanos, nomeadamente, médicos e enfermeiros que possam dar resposta às necessidades de Saúde, não só no que diz respeito à componente FÍSICA (e mesmo esta, “sabe Deus”!…), mas também  a nível MENTAL, ao invés do que está a acontecer:

– Uma excessiva sobrecarga de competências funcionais aos “já tão poucos” existentes, e também uma excessiva preocupação pelo cumprimento da contratualização de números, que é como quem diz: “Não olhar a meios para se atingir os fins!” – o que está a comprometer sobremaneira o objectivo major – A EXCELÊNCIA NO CUIDAR – para um nível infra-razoável!

E para finalizar esta exposição que já vai demasiado extensa…mas enfim(!)…entusiasmei-me, como sempre!…Fiz questão de adicionar-lhe uma música, agradavelmente peculiar e diferente…a voz, igualmente agradável, melodiosa e serena; quanto à letra, está “divinal”!…Qual retrato do “zé povinho” da actualidade:

 

Osso Vaidoso | Elogio da Pobreza

 

 

Preservemos então a nossa Saúde, na medida do possível(!)…porque na verdade: “ele há coisas que o dinheiro não compra”!

 

© Paula Pedro

 

2 comentários a “OH MEU DEUS!…MAS QUE DOR INSUPORTÁVEL!

  1. Adorei ler o que escreveste, Paula. Tens aqui um artigo excelente e bastante elucidativo. Imagino o que é um enfermeiro com um esgotamento de paciência, melhor, nem quero imaginar! Bom, os recursos humanos também faltam em termos de docentes nas escolas. Por este motivo andamos todos esgotados e doentes, com a tal dor da alma, que não se resolve com uma política que despreza a pessoa e só valoriza números. Bem dizia o Fernando Pessoa que o “funcionário público é o escravo moderno”! Como ele tinha razão! Beijinhos. Anabela Pais

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    • Muito obrigada pela crítica, Anabela.
      Sim, tens razão quando evocas Fernando Pessoa neste contexto em particular…de certa forma, ele era um visionário; E aí está!…aliás, não haja dúvidas:
      O funcionário público está a ser submetido a um esclavagismo atroz!…e, nessas condições, não há nem tampouco pode haver organismo que aguente!
      Beijinhos

      Paula Pedro

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