O drama de SER-SE um NOVO SEM-ABRIGO, esperando e desesperando por…uma MÃO!


Paula PedroOlá caros leitores!

Fiquei extraordinariamente sensibilizada e até mesmo chocada, com uma história que me contaram há uns dias atrás, de tal forma que acedi a escrever algo sobre a mesma, que deixasse transparecer o meu manifesto de indignação pela burocratização e morosidade excessivas na atribuição do Subsídio de Desemprego, a quem dele precisa com extrema urgência, ainda que temporariamente, tão somente, para subsistir.

Perplexidade e pasmo não me faltaram, quando tive conhecimento que uma das condições de acesso ao Subsídio de Desemprego é, e passo a citar: só pode ser “requerido no prazo de 90 dias consecutivos a contar da data do desemprego, no centro de emprego da área da residência do trabalhador.”

-Oh meu Deus! Mas isto pode ser um drama!…Como é que é suposto os novos desempregados sobreviverem nesse espaço de tempo?

  • Das ajudas de familiares e amigos chegados? – Sim, claro! Mas para tal, é preciso que esses tais existam e mais(!), que estejam disponíveis para ajudar!
  • Do apoio das Organizações, Associações e Grupos Solidários/Humanitários? – Outra hipótese, mas ao que parece, também passível de uma burocratização excessiva, tornando moroso o processo de acolhimento.
  • Da Caridade? – Ah, sim! Sem dúvida, a via mais fácil e célere para a satisfação das Necessidades Humanas Básicas!…

E, as estatísticas não enganam, a avaliar pelo aumento dos pedidos de ajuda ao Banco Alimentar, sendo certo que, um em cada quatro portugueses está em risco de pobreza e, quem aufere o salário mínimo, segundo consta, ganha menos 12 euros do que em 1974 (descontando a inflação). Aliás, os indicadores são assustadores, elucidando que, contrariamente à média da União Europeia cujo risco de pobreza se mantém estável, em Portugal, tem vindo a aumentar a larga escala, com surgimento dos “novos pobres”, maioritariamente provindos da classe média, digamos que, mais fragilizada, mais vulnerável, e que se vieram juntar aos pobres, já anteriormente existentes.

Ficar-se desempregado poderá ser um problema (ou não?!), dependendo da maneira como se vivencia a questão e também do contexto envolvente; para alguns poderá ser o fio condutor para o efeito bola de neve, onde vão coexistindo em catadupa intercorrências e vicissitudes que poderão gerar outras perdas, que por sua vez, poderão induzir a estados de ansiedade, ou mesmo de depressão, ou até mesmo Síndrome de Borderline (também designado por Transtorno de Personalidade Limítrofe), consistindo este último, numa grave doença psicológica em que os indivíduos afectados vivem no limite, entre a normalidade e os surtos psicóticos.

Ainda assim, atrevo-me a dizer que a VIDA É FEITA DE ESCOLHAS! Mas infelizmente nem sempre se opta pelas escolhas mais assertivas no rumo da própria vida, quiçá, por condicionantes do meio envolvente?!…Como: falta de recursos; falta de condições para se “ir mais além”; pobreza de espírito; falsas expectativas; logro, que é como quem diz: ser-se enganado e/ou usado para…sem que daí resulte qualquer tipo de benefício ou lucro para o próprio, conforme supostamente terá sido previamente contratualizado entre partes. Em suma, ninguém está livre de ser ludibriado pela “canção do bandido”, menosprezado, desprezado e até subornado, e, numa situação de desemprego percepcionada pelo próprio como algo dramático, a pessoa inconscientemente “agarra-se” ao que quer que seja, que lhe faça sentir uma réstia de esperança, de saída do “buraco negro” em que terá mergulhado!

Se bem que, para casos assim, seria extremamente útil, para bem do próprio e da Sociedade, a existência de programas integrados de reabilitação social e pessoal, com intervenção de Terapeutas da Saúde Pública e da Saúde Mental, nomeadamente médicos, enfermeiros, psicólogos, etc., no sentido de se mudar padrões de comportamento, e, incentivos para que adquiram competências que proporcionem a entrada no mercado de trabalho, ao invés de existirem apenas subsídios de sobrevivência…para que pessoas, como o protagonista desta história verídica que, por esse mesmo motivo, vamos chamar-lhe Ricardo (nome falso, portanto!), saiam do flagelo da vida em que mergulharam e consigam obter ferramentas para (re)construírem uma VIDA CONDIGNA, com capacidade de auto-sustentabilidade, como é o seu desejo; porque o resto, havendo saúde, certamente virá, por acréscimo…

Assim, dita o essencial da história que interessa saber e que realmente me comoveu:

Ricardo, 46 anos, com o 12º. ano de escolaridade como habilitações académicas, sem quaisquer formações profissionais; todavia, detentor de uma grande dose de criatividade e experiência no âmbito da publicidade, web design e marketing inerente a esses domínios, atributos que aprimorou ao longo dos anos na empresa onde era efectivo, mas que infelizmente, no seguimento das cada vez mais danosas políticas de austeridade, acabou por falir, não resistindo à crise – tal como muitas outras pequenas e médias empresas, pois está claro! – empurrando compulsivamente o Ricardo e uns quantos outros, para o desemprego.

O que desconhecemos de todo é que o Ricardo é um artista inato cuja arte, maioritariamente advinda do saber empírico, vai inebriando a alma dos que por esse mundo fora vivem e sentem à flor da pele a expressividade da sua poesia, obviamente, mediante os poemas que pontualmente vai publicando nas redes sociais, pois, ainda que incentivado – pelos vistos, apenas com “palmadinhas nas costas”- tampouco tem disponibilidade financeira ou patrocínios para publicar, por meio de editoras. Ainda assim, popularidade não lhe falta…mas só isso mesmo!

– Ora bem! O descalabro na vida do Ricardo começa a instalar-se mediante as perdas que vão ocorrendo, por via da instabilidade profissional que se seguiu, sujeitando-se a contratos de trabalho precários, com interregnos, em sectores da restauração, outras bricolages e afins, tão somente, para poder subsistir; e ainda, mediante a instabilidade afectiva-relacional, que não interessa estar agora aqui a esmiuçar, mas o que é certo, é que o Ricardo, como que de repente, ou seja, desde Setembro último, a esta parte, ficou sem casa de habitação e sem a possibilidade de arrendar um simples quarto. E foi precisamente esta contingência de não deter uma morada fixa para atribuir, que serviu de empecilho à Segurança Social, Câmaras Municipais e Organizações supostamente Solidárias a que recorreu, o que causou um imbróglio de todo o tamanho, dificultando o acesso do próprio ao Subsídio de Desemprego e, a outras ajudas que, não passaram de promessas vãs, mas que na praça pública terão sido e são fornecidas, em prol de uma (falaciosa) imagem íntegra, por parte dessas tais  Associações Humanitárias que promovem “CUIDAR DO OUTRO”!

– Pois é!…A realidade é que estamos em meados de Março e a situação do Ricardo só está parcialmente resolvida, na medida em que, parece que o tão desejado Subsídio de Desemprego vem finalmente a caminho –  ainda que, “por portas travessas” que teve que contornar, relacionadas com a “indispensável e exigível morada” que, alguém lhe viria a emprestar de modo fictício, para o efeito pretendido – o que lhe irá permitir DEIXAR DE SER UM SEM-ABRIGO, e bem assim, arrendar um quarto, ou quiçá, um anexo(?!), e, nessas circunstâncias, aí sim!…Detentor de uma morada efectiva, já lhe permitem inscrever-se para procura de emprego, no Centro de Emprego da área de residência.

Entretanto, as mazelas do sofrimento estampadas no fácies expressivo, já um pouco rugoso para a idade, e certamente, outras maleitas adquiridas por quem vive na rua…ninguém lhas tira!

– E lá está ele!…Ricardo, o artista, à espera de uma oportunidade…de uma MÃO! Quem o quiser ver é muito fácil! Basta ir dar um passeio até ao Centro Comercial Colombo, em Lisboa – a cidade do seu coração – e dirigir-se à zona com rede wi-fi gratuita; aí encontrarão o Ricardo de volta de um computador emprestado, a criar e a partilhar para o mundo, a sua maravilhosa SABEDORIA INATA…a meu ver, bem mais louvável do que a de alguns artistas de renome.

Para finalizar, ainda que este seja um assunto sério que tem a ver com a DIGNIDADE DA VIDA HUMANA, atrevo-me a dedicar ao Ricardo e a todos os “Ricardos” que por esse mundo fora aguardam uma Mão…uma música que aprecio bastante, pela mensagem nela subjacente:

Boss AC – Sexta-feira (Emprego Bom Já) – Exclusive

Como sempre, até breve se Deus quiser.

Beijinhos

 

Paula Pedro

4 comentários a “O drama de SER-SE um NOVO SEM-ABRIGO, esperando e desesperando por…uma MÃO!

    • Há cicatrizes que ficam para sempre que nem feios e dolorosos quelóides, imunes à passagem do tempo…estas, em particular, pelo sofrimento que provocam tendem a amargurar a alma e o coração. Uma atenção, um afago, um carinho, poderão fazer milagres, no alívio da dor.
      Este artigo representa o meu manifesto solidário para com o Ricardo em especial, e para com os outros”Ricardos” em semelhantes deploráveis condições de Vida.
      Muito obrigada pelo comentário Alice Coelho.
      Beijinhos. 🙂

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