Conta-ME Histórias, que EU gosto!… Contas? #6 – CORAÇÕES EM MALA DE CARTÃO


#6 - CORAÇÕES EM MALA DE CARTÃO (2)

 

#6 – CORAÇÕES EM MALA DE CARTÃO

– Fica mamã; por favor não vás! Tens mesmo que ir? – Foram estas as palavras, inconsolavelmente balbuciadas pelo meu valente homenzinho, no derradeiro minuto da despedida, no aeroporto.

– Sim meu anjo, mas não fiques triste; logo, logo, a mamã estará de regresso para te vir buscar. Até lá, porta-te bem campeão, e… cuida dos avós! Cuidas? – Respondi-lhe como que a engolir sapos.

Palavras que ficam… que me dilaceram e esquartejam o coração; que me tiram anos de vida, por um ter que ser, que não tinha de todo.

Se não fosse essa cambada de (des)governantes desta república das bananas, que tem feito um grandessíssimo zero para reter no seu país os excelentes profissionais que forma, a preço de ouro; “massa cinzenta” altamente qualificada e diferenciada que não tem outro remédio senão, sucumbir ao aceno auspicioso de um cheque chorudo, de melhores condições de trabalho e de vida, certamente eu e muitos dos meus pares, não teríamos que partir.

Bardamerda de políticas e politiquices; fecharam-me as portas, as janelas, o coração e até, a vontade de viver.

Ainda que rodeada de gente nesta enorme cidade sombria e fria, sinto-me só; tão só, porque ELE, o meu filho, não está. Matamos saudades pelo Messenger do Facebook… um beijo colado no ecrã do computador, um sorriso esforçado e pouco mais, são o meu balão de oxigénio para o dia seguinte, no St. George’s Hospital.

Os colegas, grande parte deles também emigrantes, são uns bacanos; desafiam-me para sair, para me divertir, desinibir; mas como, se me sinto anestesiada, despida de tudo e de todos e até de mim?!

Conheci o Michael, um tipo fixe que não desgruda de mim desde o dia em que embatemos um no outro, num café já há algum tempo prometido. Conversámos horas infindas sobre tudo, sobre nada e, sobre o mais importante, claro – a rotina entediante, os dias cinzentos, o olhar no vazio dos rostos nostálgicos, como o meu; e são sempre os mesmos, nos mesmos locais, à mesma hora,… shit!

– Não sei se consigo ficar! – Ter-lhe-ei dito em género de desabafo, como quem estás prestes a soltar a corda que o suspende num precipício, por não aguentar mais a dor lacerante da ausência, da saudade.

Reagiu de imediato segurando o meu rosto entre mãos e, um olhar certeiro, por mim adentro:

– Fica Magda! Pensa no teu filho. Solta-te; desfruta, saboreia, acredita, VIVE! Pelo menos, por ora… FICA!

R. Kelly – I Believe I Can Fly

 

Paula Pedro

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